Avaliação Educacional no Brasil em tempos de COVID19

O Brasil foi um dos signatários, em 2015, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável-ODS, entre eles, o ODS 4, referente à Educação, que estabelece que, até 2030, iremos assegurar a todos Educação de qualidade e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida. Infelizmente o país, apesar de importantes avanços em acesso à escola no período recente, ainda tem enormes desafios para oferecer um ensino com algum nível de excelência e convive com expressivas desigualdades educacionais, como mostram os resultados de 2018 do PISA, avaliação aplicada a jovens de 15 anos de 79 economias, organizada pela OCDE.

De fato, o Brasil vive uma crise de aprendizagem e, isso, num período em que vivemos a chamada 4ª Revolução Industrial, marcado por uma automação acelerada pelos avanços da Inteligência Artificial. Com isso, há uma crescente substituição de trabalho humano por máquinas, inclusive o que demanda competências intelectuais. Assim, o mundo do trabalho passou a exigir dos jovens não só habilidades básicas, mas competências mais sofisticadas, para poder garantir empregabilidade ou, alternativamente, empreendedorismo.

É neste contexto que surge a COVID 19 que, em pouco tempo, transformou-se numa pandemia e a maior crise sanitária de que o mundo teve notícia. Cerca de 190 países tiveram escolas total ou parcialmente fechadas, num processo que atingiu cerca de 1,5 bilhão de alunos. O Brasil foi um deles e, desde meados de março, as crianças e adolescentes não vão às aulas. Neste contexto, há um grande risco de um aumento expressivo de desigualdades educacionais e de agravamento geral da crise de aprendizagem.

A maior parte das redes públicas usou uma combinação de mídias para tentar assegurar que a aprendizagem chegasse a todos. Assim, foram utilizados aqui, como em boa parte dos outros países, plataformas digitais, televisão, rádio e roteiros de estudo em papel. Por meio de uma logística complexa, que envolveu inclusive o envio de cestas de víveres, para que a falta de merenda não resultasse em insegurança alimentar para parte das crianças e adolescentes, foram entregues materiais didáticos nas escolas ou nas residências, adquiridos pacotes de dados para Internet e construídas parcerias com canais de TV ou rádio. 

Neste contexto, a avaliação poderia, à primeira vista, parecer desnecessária.  Afinal, porque avaliar a aprendizagem dos alunos será quando muito insuficiente e o processo de ensino amadorístico, já que os professores não foram adequadamente preparados para um ensino a distância? 

No entanto, é justamente neste contexto que a avaliação se faz mais necessária. Precisamos saber, se possível ainda durante o isolamento, caso contrário, na volta às aulas, se houve perdas cognitivas, se as desigualdades educacionais cresceram, para melhor orientar o processo de ensino e a estruturação de um sistema de recuperação de aprendizagem. Trata-se de uma avaliação diagnóstica que também nos fará entender os limites e as possibilidades de se poder aprender para além dos muros da escola e de se introduzir, na volta às aulas, alguma forma de ensino híbrido. 

No entanto, é justamente neste contexto que a avaliação se faz mais necessária. Precisamos saber, se possível ainda durante o isolamento, caso contrário, na volta às aulas, se houve perdas cognitivas, se as desigualdades educacionais cresceram, para melhor orientar o processo de ensino e a estruturação de um sistema de recuperação de aprendizagem.

Mas a avaliação de processo também será importante. Precisamos incorporar o que aprendemos durante este período de desafios na política pública. Isso significa olhar para o que deu certo e o que não funcionou ao tentar chegar a todos os alunos com alguma forma de ensino remoto além de verificar sua efetividade para evitar o aumento da desigualdade educacional. Com isso, poderemos aperfeiçoar o que fazemos na educação pública.

Isso será particularmente importante se, como várias redes públicas no Brasil já constataram, tivermos que introduzir um ensino híbrido, com parte da aprendizagem ainda acontecendo em casa, já que teremos provavelmente que ter rodízio de alunos para assegurar distanciamento social dentro de cada sala de aula. Neste caso, fará sentido pensar em reservar para o trabalho de casa as exposições de conteúdos novos e para as salas de aula a aplicação, com os alunos organizados em grupos, destes conceitos e os professores utilizando metodologias ativas na resolução de problemas concretos relacionados ao que foi visto em casa. Em outros termos, poderemos avançar no uso da chamada “sala de aula invertida”. 

Isso será particularmente importante se, como várias redes públicas no Brasil já constataram, tivermos que introduzir um ensino híbrido, com parte da aprendizagem ainda acontecendo em casa, já que teremos provavelmente que ter rodízio de alunos para assegurar distanciamento social dentro de cada sala de aula.

E caso, como projetam muitos epidemiologistas, uma segunda onda da COVID 19 aparecer, como ocorreu com a chamada gripe espanhola, estaremos preparados a partir do conhecimento do que funcionou ou não na primeira. Afinal, é justificável que no primeiro surto tenhamos tido uma abordagem amadorística na resposta educacional à pandemia, no entanto, não teremos essa desculpa na segunda.

Mas, mesmo que não tenhamos que viver a continuidade da pandemia, a avaliação do processo e das aprendizagens dos alunos vai servir de um registro histórico de fundamental importância para construir uma escola que possa realizar o projeto contido no ODS 4 : a ideia de que educação tem de ser de qualidade para todos e que mesmo durante crises ou tragédias precisamos continuar garantindo que as crianças e jovens aprendam e que as desigualdades educacionais não aumentem.

Claudia Costín

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